03 junho 2013

Livros - South of the Border, West of the Sun | Haruki Murakami

Este foi o primeiro livro que li de Haruki Murakami, um autor japonês, a conselho de uma amiga.
Devo confessar que, ao contrário da crítica que considera esta uma grande história de amor, achei que se tratava de uma história morna, com pouco de amor à mistura. Mas ainda assim recomendo a sua leitura. Relembra-nos a capacidade infinita que o ser humano possui para sabotar a sua própria felicidade.




Li algures que quando alguém faz uma avaliação sobre um livro que leu, deveria evitar fazer juízos de valor.
Não sei se tal será possível. Implicaria desligar todos os filtros que criei, desde que nasci, e olhar para este romance como se nunca tivesse amado, como se não reconhecesse certos traços de personalidade, como se nunca tivesse sofrido e feito sofrer.
Claro que quando falamos de um romance publicado originalmente em 1992, sob os padrões da cultura japonesa da época, tem de existir um distanciamento que nos permita contextualizar esta história.
Mas quando falamos de carácter, de qualidades e defeitos intrínsecos à condição humana, é normal que a tendência seja para comparar com as nossa próprias experiências. E, sem dúvida, esta é uma perspectiva muito masculina do amor, com a qual não me consegui relacionar totalmente (enfatizada pelo facto de esta história se situar no seio de uma sociedade patriarcal).

A história centra-se no percurso de Hajime, filho único, algo raro no Japão da época, o que irá moldar a sua personalidade e acentuar o seu lado individualista. Desde a sua infância e a descoberta da amizade ao lado de Shimamoto, até ao momento em que, já casado e pai de duas filhas, reencontra a amiga para definitivamente permitir que os sentimentos que (ainda) nutria por ela sejam despertos.

Mas a palavra que sinto cravada a ferros na minha mente sobre este romance é morno. Tudo nele é morno. O começo que demora a agarra o leitor, a relação entre as personagens... até as cenas de sexo foram incapazes de provocar um rubor na minha face. Têm tanto de explícito como de desapaixonadas.
Para além de que o mistério exagerado à volta do percurso de Shimamoto, não me permitiu criar empatia com a personagem. Mistério não deve ser literalmente a ausência de informação.

O melhor deste livro é, na minha opinião, a construção da personalidade de Hajime. Que, tal como acontece na realidade, pode ser constituída por características, muitas vezes, contraditórias. Quanto a Hajime, acredito que apesar da sua tendência para magoar quem o ama, seja basicamente uma pessoa decente.
Apesar disso, a sua tendência para a traição é um comportamento muito explorado neste livro. Desde a inconsciente, a física, a moral, até à que é perpetuada contra a sua própria pessoa. Pela minha experiência, a obcessão por alguém do passado, inalcançavel, não é mais do que uma traição para com o presente. Nunca tive a tendência de Hajime para a autodestruição. Para outros fará todo os sentido. 
Por isso mesmo, o fim deixa em aberto imensas possibilidades sobre o destino destes "star-crossed lovers". Basta imaginação.

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